Radiohead - A Moon Shaped Pool (2016): Falo daquela garota.


Sabe aquela garota que todos os seus amigos pagam o maior pau? Ela passa, todos olham e comentam... Mas, por alguma razão inexplicável, você não consegue achá-la tudo isso?
Ela até que é bonitinha e tal, se ela der bola você vai na onda, entretanto não rola aquele encantamento.

Todos têm essa garota. E todos têm uma banda assim.

Obs.: Se necessário, inverta os gêneros da situação acima de modo que ela faça mais sentido para você. O conceito é o mesmo.

O RADIOHEAD É A MINHA GAROTA

As minhas próximas palavras poderão causar ódio e revolta. Se eu sumir após a publicação desse texto, avisem a polícia que pode ter sido algum fã radical de Radiohead.

Aí vai a revelação: A verdade é que eu não consigo me encantar pelo som desses caras!!!

Dizem que eles são gênios, dizem que são o Pink Floyd do século XXI, dizem que são o que há de melhor nas últimas três décadas.
Talvez eles sejam tudo isso mesmo. E eu, simplesmente seja incapaz de apreciar toda a genialidade de Thom Yorke e companhia, assim como um cão é incapaz de apreciar a genialidade de Leonardo da Vinci.

A Moon Shaped Pool foi tão bem recebido pela crítica... Confesso: Por certos momentos eu acreditei que esse álbum poderia mudar minha opinião.
Não. Não mudou.
O Radiohead continua sendo aquela garota que todos meus amigos torcem o pescoço para observar, e eu não vejo tudo isso.
Esse cachorro não tem ideia do que está fazendo. Eu, ao ouvir Radiohead, também não.

NOVO NEM TÃO NOVO

De certa forma, o Radiohead trilha uma abordagem pouco explorada em trabalhos anteriores. Não há o lado crítico da tecnologia, como em OK Computer, a alienação de Kid A, ou o abstracionismo de Amnesiac. A Moon Shaped Pool é intimista e reflexivo.

Grande parte desse novo conceito advém da conturbada fase pessoal do vocalista Thom Yorke, recém-separado da artista plástica Rachel Owen, com quem viveu por 23 anos.
Nada como tomar um toco para fazer o cidadão pensar na vida e nos sonhos!

Entretanto, não se iluda. Apesar de parecer novo, até no conceito, A Moon Shaped Pool não prima pelo ineditismo.
Algumas canções são materiais já tocados em shows, ou retirados de gravações não aproveitadas em álbuns anteriores.
“Se uma banda qualquer decide aproveitar um material antigo e colocá-lo em um álbum de inéditas, os críticos dizem que é material reciclado, caça-níquel, crise criativa... Se o Radiohead faz isso, são chamados de visionários.”

BOSSA NOVA PARA INGLÊS VER

Com uma grande campanha social, em que todo o material antigo da banda foi apagado de suas páginas e mídias, seguido do envio de cartas até a casa de alguns fãs no Reino Unido, com a mensagem “eu sei onde você mora”, o impacto midiático do lançamento de A Moon Shaped Pool impressionou.

O primeiro single e vídeo lançado foi de Burn the Witch. Dirigido por Chris Hopewell, o vídeo remete ao desenho infantil Trumpton e algumas referências ao clássico filme de terror O Homem de Palha (The Wicker Man).
A letra sugere o clima de insegurança vivido na Europa, em parte pela crise de refugiados e pelos recentes casos de terrorismo: Está lançado o estado de vigilância e a volta da caça às bruxas.
Bonequinhos do desenho Trumpton, em Burn the Witch não são tão amigáveis.

Daydreaming e Decks Dark se aprofundam na questão da separação, frases como “É tarde demais/ O dano já está feito”, “Metade de mim” e “Você teve o suficiente de mim?” são reflexos de um estado emocional de solidão e desolação.

Ful Stop dá início a uma sequência de três músicas que me agradou bastante. Escrita em 2012, quando a banda abusava dos experimentalismos eletrônicos de The King of Limbs (2011), Ful Stop soa quase como um Krautrock.
O clima é quebrado pelo piano de Glass Eyes e sua letra introspectiva, em tom de desabafo sussurrante: “O pânico vem com tudo/ Tão frio, de dentro para fora/ Sem um bom trabalho, nenhuma mensagem chegando”.
Para encerrar a trilogia de faixas interessantes, Identikit. Também gravada em 2012, porém, diferentemente de Ful Stop, não ficou tão eletrônica.

Os melhores momentos de A Moon Shaped Pool ficam basicamente nisso aí. O restante do álbum já não foi capaz de me despertar tanto interesse, nem a ecologicamente correta The Numbers, ou a bossa nova britânica de Present Tense. Para essa última, fiquem com Chico ou Vinícius que é bem melhor.

NADA MUDOU

É bom, mas longe de encantar. A Moon Shaped Pool não foi capaz de mudar a minha opinião sobre os ingleses. Sou um estranho no ninho, eu sei.
E quando falo de Radiohead, continuo falando daquela garota. Você também tem a sua, eu sei. Não me culpe.

As my world; comes crashing down; I'll be dancing; freaking out. Deaf, dumb, and blind.

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Radiohead
Ano: 2016
Álbum: A Moon Shaped Pool
Gênero: Art Rock
País: Inglaterra
Integrantes: Colin Greenwood (baixo), Ed O'Brien (guitarra), Jonny Greenwood (sintetizador e guitarra), Philip Selway (bateria), Thom Yorke (vocal, piano e guitarra).

MÚSICAS:
1 - Burn the Witch
2 - Daydreaming
3 - Decks Dark
4 - Desert Island Disk
5 - Ful Stop
6 - Glass Eyes
7 - Identikit
8 - The Numbers
9 - Present Tense
10 - Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief
11 - True Love Waits



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Sobre o Unknown

Depois de anos de estudo e dedicação à engenharia, percebi que era tudo um grande pé no saco. Joguei as coisas pro ar e fui para a ilha de Balboa (pode procurar no Google, ela existe!). Agora fico deitado na rede e ouço rock o dia todo.

2 comentários :

  1. Radiohead (e Bjork, mas não vem ao caso) é um banda que eu não consigo gostar. A depressão e melancolia não é como numa música do Steven Wilson, que faz você sentir algo sem que você sinta vontade de furar as suas orelhas. A voz do Thom Yorke me irrita profundamente e o resto do som não ajuda. Achei que esse álbum ia ser interessante, ainda mais quando anunciaram que teríamos um clipe dirigido por Paul Thomas Anderson (diretor do meu filme favorito no momento, Sangue Negro), mas o clipe é medíocre, o álbum também. Acho que o termo pra mim que define o Radiohead é overrated, as pessoas dão crédito demais pra qualquer coisa que eles fazem, é quase que um culto, uma religião alienadora. Não dá.

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    1. "o termo pra mim que define o Radiohead é overrated, as pessoas dão crédito demais pra qualquer coisa que eles fazem, é quase que um culto, uma religião alienadora"... Penso exatamente da mesma maneira!
      Até gosto de Radiohead, em doses homeopáticas, essa "genialização" em torno deles não consigo engolir.

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