Avantasia - Ghostlights (2016): Muitos atores para pouco texto.


Existem filmes recheados de bons atores, que prometem ser sensacionais, mas não passam de uma decepção.

Exemplos não faltam...
Em 2009 eu estava ansioso para ver Os Homens que Encaravam Cabras. O elenco era George Clooney, Jeff Bridges e Kevin Spacey. Seria um filme épico, certeza.
Foi trágico.

E Para Maiores, de 2012? Hugh Jackman, Emma Stone, Kate Winslet, Halle Berry… Tudo isso para você nunca mais olhar o pescoço do Wolverine com os mesmos olhos.

NÃO CHEGA A TANTO

Citei exemplos extremos, Ghostlights não chega a tanto, mas é um pouco desse conceito: Um line-up estelar, para um resultado apenas razoável.

Tobias Sammet, líder do projeto Avantasia, convocou caras como: Bruce Kulick (Kiss), Dee Snider (Twisted Sister), Geoff Tate (Queensrÿche), Marco Hietala (Nightwish), Michael Kiske (Helloween), e mais uma penca de picudo. Não quero me alongar demasiadamente.
É praticamente uma seleção europeia de músicos.

Como todos os outros álbuns do Avantasia, Ghostlights segue a linha ópera rock e as músicas se entrelaçam entre si enquanto contam uma história com ar bastante teatral.
E aí que a coisa dá uma azedada. Não porque as músicas são ruins, longe disso, como falei, os atores (músicos) são bons. O ponto é a direção.
Kiske, à direita, pedindo mais uma coxinha durante um show.

O ERRO DE GHOSTLIGHTS

Já disse aqui mais de uma vez: As letras são importantes, sempre. Entretanto, em alguns casos elas são ainda mais importantes.

Convenhamos, um disco de rock progressivo (aonde o instrumental é o foco) não precisa passar uma mensagem com a mesma força que um disco de punk deveria transmitir (ideia de protesto e confronto).
Agora, se o disco é conceitual, a letra passa a ser um pré-requisito. Sem uma boa história, o trabalho perde todo seu propósito.
“Já pensou o que seria o The Wall sem a força da sua letra? Provavelmente passaria batido como um disco mediano do Pink Floyd, época em que reinou a briga de egos. A letra foi fundamental para The Wall ser o que é.”
Em Ghostlights, o chefe Tobias resolveu fazer uma continuação de The Mystery of Time (2013). E a história não convence.

Um cientista agnóstico resolve se juntar a um grupo de cientistas megalomaníacos, curiosos e ambiciosos, com o objetivo de controlar o ritmo das pessoas (percepção de tempo). Preliminarmente eles querem fazer isso para aproximar pessoas, mas o protagonista percebe que também será capaz de alienar toda a humanidade, e assim controlá-la. Com tamanho poder em mãos, Ghostlights é sobre a jornada espiritual desse cientista e suas decisões.

MUITOS PONTOS SEM NÓ

O enredo narrado acima soa interessante, infelizmente é mal explorado. É tudo jogado de forma muito vaga, e as participações especiais criam um overbooking de personagens. É tanto cara, que não dá tempo de se aprofundar em nada e tudo fica superficial.

A essência de um álbum conceitual é o todo ser maior do que a soma das partes, porém o Avantasia não consegue cumprir isso.
Individualmente Ghostlights possui excelentes faixas que em quase nada se acrescentam quando juntas.

A maior evidência é a abertura com Mystery of a Blood Red Rose. Totalmente comercial, a letra está longe de se relacionar com a história, e o clipe... Muito menos. Onde estão os cientistas? A tal máquina? Os dilemas?
Tudo o que se vê é uma mulher em um baile de máscaras, trocas de olhares, e a banda em uma mansão vazia.
O nome disso é metal farofa.
Tobias com cara suspeita... Devia estar engolindo farofa.

O VERDADEIRO COMEÇO

O verdadeiro começo do álbum acontece em Let the Storm Descend Upon You. Agora sim entramos na história proposta, são doze minutos apresentando alguns personagens em diálogos bem entrelaçados: O protagonista, o cientista ambicioso, o mágico, e a tentação.
A tentação é a responsável por alimentar o desejo de controlar a humanidade, “Nós podemos te dar as respostas que você morreria para receber/ Continue sonhando”.

O momento mais sombrio e teatral também é o melhor momento. The Haunting coloca mais um personagem na mesa: O pesadelo (“Por mil noites nós chamaremos seu nome/ Feche os olhos, mas eu não vou embora/ Estamos aqui por você”).

A faixa título é a cereja do bolo, com a participação daquele que considero o maior vocalista do power metal: Kiske, no papel do místico.
O gordinho mostra que está em plena forma, com agudos potentes e afinação monstruosa.

Mas, por incrível que pareça, não foi o Kiske quem me surpreendeu. Foi um tal de Herbie Langhans, na faixa Draconian Love. Ele interpreta um personagem chamado Eclipse. A voz do cidadão tem um timbre grave, contrastando muito bem com o timbre do Tobias.

Repare: Falei de 6 músicas e pelo menos 7 personagens. É muita coisa. Por isso fica tudo muito raso.
E ainda aparecem mais alguns personagens adiante, como a musa (Isle of Evermore) e o espírito (A Restless Heart and Obsidian Skies). É tanta coisa que a história se perde. E junto com a história se vai o desejo de seguir na narração.

COMO DIRIA RAUL

Ghostlights é um trabalho muito bom se as músicas forem analisadas individualmente. Só que como obra conceitual, o álbum falha miseravelmente... Está longe de entregar o que promete.
Exatamente como aquele filme cheio de estrelas, mas sem nenhum texto que justifique a presença de todos.

Quando isso acontece, sempre lembro do Raulzito. Será que não é um problema de muita estrela para pouca constelação?

Eternities ago I must have fallen; through my pride been perfect in my ways. The morning star they fired down from heaven.

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Avantasia
Ano: 2016
Álbum: Ghostlights
Gênero: Power Metal
País: Alemanha
Integrantes: Michael Rodenberg (teclado), Sascha Paeth (guitarra), Tobias Sammet (vocal).

MÚSICAS:
1 - Mystery of a Blood Red Rose
2 - Let the Storm Descend Upon You
3 - The Haunting
4 - Seduction of Decay
5 - Ghostlights
6 - Draconian Love
7 - Master of the Pendulum
8 - Isle of Evermore
9 - Babylon Vampyres
10 - Lucifer
11 - Unchain the Light
12 - A Restless Heart and Obsidian Skies



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Quem usa o Google Plus?

Sobre o Unknown

Depois de anos de estudo e dedicação à engenharia, percebi que era tudo um grande pé no saco. Joguei as coisas pro ar e fui para a ilha de Balboa (pode procurar no Google, ela existe!). Agora fico deitado na rede e ouço rock o dia todo.

2 comentários :

  1. Tá ai uma banda que eu não consigo mais engolir: Avantasia. Infelizmente não consigo mais engolir nenhuma metal ópera além dos primeiros do Ayreon. Ainda sim tenho que estar no clima. O mesmo mal que aflige esse CD é o mal que aflige o último do Ayreon, uma continuação que se perde no número de personagens e músicas que não acrescentam em nada no todo. Ainda no Ayreon nem individualmente as músicas são válidas porque são quase 50 músicas que segmentam 4 fases do CD. É uma farofa sem tamanho. Além disso, outro problema que eu vejo não só em metal óperas mas no power metal em si é a falta de inovação no som. É sempre a mesma coisa. Talvez eu esteja sendo um pouco preconceituoso e fazer a mesma coisa é uma característica de 99% da música atualmente, mas eu prefiro ficar no 1% e deixar o resto pra nostalgia me levar haha.

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    1. Eu gosto do conceito de metal ópera, mas parece que elas viraram algo parecido com os filmes de terror "hollywoodianos", lotados de clichês e textos medíocres.
      Já com relação ao power metal, sou suspeito para falar, é um gênero que gosto bastante! Apesar disso, concordo que inovação não é o forte.

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