Camisa de Vênus - Dançando na Lua (2016): Pouca constelação.


“Chega de ficar ligado/ Naquele blá blá blá do passado/ Enquanto você só ouve o mesmo rádio quebrado”.

A frase acima está na música Chamada a cobrar, e como não dar razão ao Camisa de Vênus? Tanta coisa nova sendo lançada, e a galera sempre presa aos mesmos clássicos...

FAÇAM O QUE EU FALO

Façam o que eu falo, mas não façam o que eu faço. Esse é o lema. Porque apesar de clamar por renovação, o Camisa de Vênus insiste em martelar no passado. “Eu fico martelando, martelando, martelando na bigorna”, já antecipou Marcelo Nova em 1987.

Por mais que Dançando na Lua seja um louvável disco de inéditas, é deprimente ir ao show do Camisa e não ouvir sequer uma música do novo álbum. O que rola é só o blá blá blá do passado, o mesmo rádio quebrado.

E não é por falta de material. Dançando na Lua, apesar de ter apenas Marcelo Nova e Robério Santana como membros remanescentes da formação da banda, mantém pulsante as características que consagraram o Camisa de Vênus.

BRIGAS NA JUSTIÇA

A longa trajetória do grupo baiano passou por altos e muitos baixos. O último episódio marcante foi nos tribunais. Em 2010, os guitarristas da formação original, Karl Franz Hummel e Gustavo Mullem, chamaram o vocalista Eduardo Scott. Juntos, lançaram um disco usando o nome Camisa de Vênus.

Marcelo Nova ficou puto e entrou na justiça para impedir que os antigos parceiros utilizassem o nome da banda. Após muita treta e xingar muito no Twitter, Nova conseguiu o direito de utilizar o nome do grupo e reativou a banda com o baixista original, Robério Santana.
“Marcelo Nova é o dono da bola. O jogo só começa quando ele quer, e se ele quiser. Se isso é justo ou não, não sei dizer. Mas é inegável que ele é o cerne criativo do Camisa de Vênus. Camisa sem Marcelo seria como Motörhead sem Lemmy.”

O TEMPO PASSOU

A primeira constatação ao ouvir Dançando na Lua, é de que o tempo passou. Como consequência, a banda evoluiu.

Instrumentalmente não é mais aquela banda crua de Batalhões de Estranhos. Eles estão muito melhor. Talvez a chegada dos guitarristas Drake Nova e Leandro Dalle, além de Célio Glouster nas baquetas, tenha contribuído um pouco para essa nova cara.
É uma sonoridade muito mais próxima do álbum Quem é Você?, de 1996.

Outra mudança é aquela velha atitude punk, que definitivamente fica no passado. Existem breves lampejos, como em A raça mansa, mas de forma geral Dançando na Lua está mais para o rock.
“Você traiu o movimento punk, véio!”

ACIDEZ E CONSTRANGIMENTOS

As letras ácidas e irônicas, uma marca registrada do Marceleza, já não são mais tão impactantes como antes. Isso é uma pena.

Os bons momentos ficam por conta de Como no Inferno de Dante (“Hoje acordo com o cheiro insuportável dos domingos”), O estrondo do silêncio (“Moisés ainda carrega tantas leis na mão/ 5 são verdades, 5 são besteiras”) e A raça mansa (“Ultimamente tenho estado isolado/ Quase não saio mais da minha cabeça”).

Mas há também espaço para momentos constrangedores, como o péssimo refrão de Chamada a cobrar (“Você torrou todo o meu dinheiro/ No Rio de Janeiro/ E agora me liga a cobrar”), ou então a balada Manhã manchada de medo, e seu odor de perfume barato.

RETORNO NÃO TRIUNFAL

Duas décadas após o Quem é Você?, o Camisa de Vênus volta a lançar um material inédito. O hiato criou muitas expectativas, e só o fato de estarmos falando de uma banda que não lança nada há 20 anos já mostra como ela foi relevante um dia.

Entretanto, Dançando na Lua pode frustrar um pouco. Não foi o retorno triunfal que tantos imaginavam.
Tem suas virtudes. Tem suas estrelas. Mas não tem a constelação.

Se a dor é constante, mas o trajeto é comprido; não reclame da vida antes de tê-la vivido.

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Camisa de Vênus
Ano: 2016
Álbum: Dançando na Lua
Gênero: Hard Rock / Pós-Punk
País: Brasil
Integrantes: Célio Glouster (bateria), Drake Nova (guitarra), Leandro Dalle (guitarra), Marcelo Nova (vocal), Robério Santana (baixo).

MÚSICAS:
1 - Dançando na Lua
2 - A raça mansa
3 - Chamada a cobrar
4 - Vento insensato
5 - Manhã manchada de medo
6 - Sibilando como cascavel
7 - A urna da obsessão
8 - Só morto / Burning Night
9 - O estrondo do silêncio
10 - Como no Inferno de Dante



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Sobre o Unknown

Depois de anos de estudo e dedicação à engenharia, percebi que era tudo um grande pé no saco. Joguei as coisas pro ar e fui para a ilha de Balboa (pode procurar no Google, ela existe!). Agora fico deitado na rede e ouço rock o dia todo.

4 comentários :

  1. Pô, tua resenha me deixou com um pé atrás. Ouço ou não ouço o disco, dá a impressão de que vale a pena pelo menos uma audição, mas ai a tua nota fode com tudo hahahaha :)

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    1. Minhas estrelas talvez passem uma impressão meio errada.
      O 2.5 significa que é algo entre o razoável e o bom, então se você curte o som do Camisa, acho que vale a audição sim.
      Não é o mesmo Camisa de outrora, mas tem algumas faixas que valem a pena (outras são melhor ignorar, hahaha)!

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    2. Acabei ouvindo... ainda bem que ouvi, pra matar a curiosidade, mas, que disquinho ruim...

      Eu geralmente faço isso quando tenho tempo, enquanto vou ouvindo o disco vou escrevendo minhas impressões iniciais, apesar de saber que certos discos precisam de mais de uma 'ouvida', as vezes acho que a melhor maneira de dar uma opinião é logo de cara.

      A minha eu postei no RYM, e foi meio um histórico/bordoada rs

      https://rateyourmusic.com/release/album/camisa-de-venus/dancando-na-lua/

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    3. Acabei de ver sua resenha sobre o Camisa de Vênus no RYM, pelo visto não teve salvação mesmo! Hahahaha...
      Pelo menos o Marcelo Nova parou de fazer aqueles "vibratos" horrorosos com a voz... Senão poderia ser pior. :-)

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