Metallica - Hardwired... to Self-Destruct (2016): Jogando para a torcida.


Quem acompanha futebol sabe bem, existem dois tipos de jogadores.

Um é aquele que joga para a torcida. O cara faz firula, dá declarações polêmicas, produz lances de efeito... Geralmente é tratado pela torcida com uma relação de amor e ódio. É o Valdívia, o Robinho, o Balotelli.

Já o segundo é o carregador de piano. Geralmente é discreto, esquecido pela torcida, sem destaque na mídia, mas no fundo é o cara que faz a bola rodar e carrega o time nas costas com jogadas eficientes e práticas. É o Iniesta, o Renato Augusto, o Schweinsteiger.

O VALDÍVIA DO METAL

Se o Metallica fosse um jogador, certamente seria o Valdívia! Assim como o chileno, a banda adora passar um tempo de chinelo (isso explica os longos hiatos entre seus álbuns), além de ter no histórico alguns momentos bem polêmicos.

Apesar das brigas com a torcida, os lances geniais do passado ficaram na memória dos fãs, e sempre há a esperança de que o brilhantismo se repita.
É metaleiro! Agora o cabelo comprido faz todo o sentido.

Prometendo retornar às origens, com uma sonoridade pré-Load, o Metallica novamente empolgou sua torcida. Singles e campanhas indicavam que os anos dourados iriam voltar.
E foi isso mesmo que aconteceu?

SIM E NÃO

Sim. A sonoridade dos norte-americanos está mais próxima daquele thrash heavy metal que consagrou o conjunto e os tornou maiores de todos os tempos.

Sim. O Metallica voltou a produzir um álbum bom, depois da tragédia que foram alguns trabalhos anteriores.

E sim. Novamente temos bons riffs, bons refrãos, e até letras interessantes, que fogem o senso comum do metal.

As três afirmativas acima, deixam claro, Hardwired... to Self-Destruct fez valer a espera, e é um puta álbum! Correto?
Não, meu jovem Padawan. Não se esqueça de que o Metallica é especialista em jogar para a torcida.
“Dizem que a banda evoluiu muito em relação ao Death Magnetic. E onde está o mérito nisso? Até o escapamento furado de uma CG 125 soa mais agradável do que aquela joça! Isso era o mínimo que se esperava.”

ERROS BÁSICOS

Escrever é humano e editar é divino. Quantas vezes terei que repetir esse mantra?
Parece uma questão tão simples de ser observada, mas muitas bandas sempre empacam nesse ponto.

Por isso tenho saudades dos LPs. Naquela época o espaço era pequeno e não tinha como o artista ficar enrolando por mais de uma hora com riffs e melodias repetitivas.
O Metallica enrola demais em Hardwired... to Self-Destruct, e algumas músicas como ManUNkind, Dream No More e Now That We're Dead poderiam ter metade do tamanho.

Outras músicas, como Am I Savage? e Spit Out the Bone, simplesmente não precisavam existir. Não acrescentam absolutamente nada ao álbum.

Só com esses cortes que comentei, seriam 23 minutos a menos de música, que deixaria o trabalho com um total de 54 minutos. Muito melhor e menos cansativo.
Esses cortes também excluiriam a inútil necessidade de se fazer um álbum duplo.

Aliás, o fluxograma abaixo indica com exatidão quando que alguém pode gravar um álbum duplo. Ele é meio complexo, mas dá para entender com um pouco de paciência.
Fonte: Angry Metal Guy.

ACERTOS BÁSICOS

É quando o Metallica faz o básico, aquilo que sabe fazer de melhor, que Hardwired... to Self-Destruct fica poderoso.

Isso já pôde ser observado nos singles Hardwired e Moth to Flame.
Atlas, Rise!, Halo on Fire e Confusion são outras três grandes faixas. A terceira, inclusive, tem uma ótima letra. Confusion conta a história de um soldado que voltou da guerra e agora sofre de transtorno de estresse pós-traumático.

Por fim, outra grande letra aparece em Murder One, um tributo ao ex-líder do Motörhead, Lemmy Kilmister. Declaradamente uma das maiores inspirações do Metallica e de todo o thrash metal.

SUFICIENTE

Apesar das minhas críticas iniciais no início do texto, entenda uma coisa: Eu sou chato e ranzinza.
Elas não querem dizer que o álbum é ruim. Pelo contrário, achei Hardwired... to Self-Destruct bom.

Agora pergunto: Ser bom é o suficiente para uma banda com a capacidade do Metallica? Eu acho que não. Deles eu espero o ótimo. Eu quero ver mais do que um Valdívia jogando para agradar a torcida.

Chaos; awaiting for Adam's return. Madness; smiling, as we watch it burn.

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Metallica
Ano: 2016
Álbum: Hardwired... to Self-Destruct
Gênero: Heavy Metal / Thrash Metal
País: Estados Unidos
Integrantes: James Hetfield (vocal e guitarra), Kirk Hammett (guitarra), Lars Ulrich (bateria), Robert Trujillo (baixo).

MÚSICAS:
1 - Hardwired
2 - Atlas, Rise!
3 - Now That We're Dead
4 - Moth Into Flame
5 - Dream No More
6 - Halo on Fire
7 - Confusion
8 - ManUNkind
9 - Here Comes Revenge
10 - Am I Savage?
11 - Murder One
12 - Spit Out the Bone



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Sobre o Unknown

Depois de anos de estudo e dedicação à engenharia, percebi que era tudo um grande pé no saco. Joguei as coisas pro ar e fui para a ilha de Balboa (pode procurar no Google, ela existe!). Agora fico deitado na rede e ouço rock o dia todo.

3 comentários :

  1. Primeiramente, fora Pelé, Schweinsteiger é o maior hahaha. Apesar da brincadeira, sim, ele é um dos melhores jogadores que eu já assisti jogar, na minha época tardia de futebol. Segundo, a comparação com o Valdivia foi propícia por motivo adicional: Valdivia sempre foi um pipoqueiro, e nesse álbum quem pipocou foi o Kirk Hammett. "Perdi meu celular com 7 anos de riffs compostos." Não tinha uma merda de um backup? Não lembra? Não pode fazer de novo? Não, tem que deixar tudo na mão do Hetfield. E por isso eu acho que o álbum é longo demais e peca demais no quesito "solos". O Metallica tem solos sensacionais, principalmente na trindade de ouro (Lightning, Master, Justice). Faltou sal, faltou tempero nesse álbum. E definitivamente, a máxima do Stephen King funciona em qualquer situação (estou lendo um livro dele, Sobre a Escrita, e ele praticamente abre o livro com a frase), editar é difícil pra kct e não é todo mundo que skills pra isso, mas esse álbum não precisava de muito. Mesmo no contexto do thrash metal atual esse álbum é inexpressivo. Só tem nome. O ex grande Metallica.

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  2. Cara, que bizarro isso, acho que é uma coisa que todo mundo concordo, pelo menos nesse disco novo. Não tinha lido tua resenha, mas fiz a minha e toca no exato mesmo ponto (depois dá uma olhada no RYM).

    Mas infelizmente já é comum pra eles: Load (79 minutos), Reload (76 minutos), St. Anger (75 minutos), Death Magnetic (74 minutos) Hardwired... to Self-Destruct (77 minutos).

    Eu adoro os anos 90, muitas das minhas bandas favoritas vem dos 90, mas uma coisa é inegável, o CD (que apesar de mais antigo, é basicamente uma coisa dos anos 90) fudeu com a música. Não to dizendo que na época do LP a música era melhor, isso aí é uma besteirada de chato velhaco (e olha que eu sou um desses), mas na época do LP os discos saiam em sua imensa maioria com menos de 40 minutos e os que passam dos 40 dificilmente passam dos 45 minutos. Pode pegar os maiores clássicos do Rock e ver: The Dark Side of the Moon (43 minutos), In the Court of the Crimson King (42 minutos), Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (40 minutos), Led Zeppelin [IV] (42 minutos), Paranoid (41 minutos), Are You Experienced (39 minutos). Até o Nevermind tem 42 minutos. Minha teoria é que 45/50 minutos é o que o cérebro aguenta sem 'viajar'. Eu consigo ouvir um disco de 45 minutos do começo ao fim com encarte na mão e prestando atenção. Pede pra fazer isso com disco de 70 minutos... Até mesmo o The Wall que eu amo e acho perfeito eu não consigo ouvir os 80 minutos sem parar algumas vezes. Antigamente as bandas tinha aquela coisa de ter 45 minutos e é isso (tudo bem que tecnicamente o LP pode carregar uma hora de som, mas poucos eram os técnicos que arriscavam, a partir dos 50 minutos era fácil perder em qualidade), na época os caras gravaram 20 minutos de cada lado e jogavam toda a gordura fora (ou jogavam as tranqueiras em lados B de singles, por isso lado B nunca é bom de verdade), não era bom, não entrava. Depois que o CD virou a mídia principal era aquela coisa né: 'essas 3 músicas ficaram meio mais ou menos.' 'Ah, deixa ai, tem 80 minutos pra encher mesmo'.

    Vai falar a verdade que não é assim que parece cada vez que você ouve um disco de mais de uma hora? rs

    Ainda bem que muita banda voltou a gravar mais na casa dos 45 minutos. Chega de filler! Tava parecendo Naruto, só tem filler nessa porra! xD

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    1. Diego, a mais pura verdade! Salvo raríssimas exceções, considero 50 minutos como o tempo limite. Ainda mais nesse caso, um álbum de thrash metal, em que a sonoridade já tende a ser mais cansativa.
      Não há concentração que aguente!

      Infelizmente o CD permitiu que os "lados B" fossem pro "lado A".

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