Beardfish - The Void (2012): Quando Nietzsche cantou.


“O mago olhou para o futuro e não viu nada, apenas o passado repetindo-se. Com cautela, ele voltou seus olhos ao presente, e se encontrou olhando para o vazio. Ele desapareceu no escuro. O tempo passou, e um dia ele retornou com uma visão. Logo que ele falou com o primeiro estranho que cruzou o seu caminho, estava claro. Em sua ausência, nada mudou.”

QUE BRISA É ESSA?

Não entendeu nada da passagem acima? Essa é a introdução de The Void. O narrador é Andy Tillison, uma cortesia da banda The Tangent. Esse começo é peça chave, pois ela situa o ouvinte dentro do conceito do álbum.

O que? Eu disse conceito?
Exato! Assim como o último trabalho do Beardfish, The Void também é um álbum conceitual. Mas as semelhanças acabam por aí.
O Beardfish se afasta daquele prog jazzístico e produz um som muito mais pesado. A atmosfera puxa bastante para as vertentes do metal.
“É o caminho contrário do prog sueco. Enquanto bandas como Katatonia, Opeth e Pain of Salvation foram aliviando seu som com o passar do tempo, o Beardfish parece ter injetado esteroides.”
Calma! Não se desespere. O rock progressivo ainda é predominante. Só que já está bem mais rasgado e distorcido do que outrora.
O futuro e o passado se confundem. O Eterno Retorno de Nietzsche?

O ETERNO RETORNO DE NIETZSCHE

E se um demônio aparecer na sua frente e te disser que sua vida, exatamente como foi, tem que ser vivida novamente? Por inúmeras vezes mais.
Não haverá nada novo nela. Cada dor, cada alegria, cada coisa se repetirá. Tudo rigorosamente igual e na mesma sequência.

Isso mesmo. Sua vida entrará em um loop. O que significa que cada ato que você escolher hoje, escolherá para sempre.

Gosta dessa ideia? Ou detesta?
Esse é o conceito do Eterno Retorno de Nietzsche (resumido em poucas palavras). Esse lero-lero pode parecer sem sentido, mas é bom exercício de autorreflexão.

E é justamente usando o Eterno Retorno que o Beardfish baseou a história de The Void.

UMA ESPIADA NO FUTURO

A história se desenvolve centrada em mago que tem a (não tão sábia) ideia de olhar para o futuro.
Inicialmente ele acha que há algo errado com seus olhos, e que ele está vendo o passado. Só então ele se dá conta de que o futuro e o passado são, na verdade, a mesma coisa.
Cazuza, sobre The Void: “Eu vejo o futuro repetir o passado”.

Perplexo com sua visão, o mago tenta voltar seus olhos ao presente. Só que ele não consegue ver nada além de um vazio. E nesse vazio ele fica aprisionado.
Agora levanto uma questão: Seria esse vazio algo literal, ou uma metáfora para um sentimento de incompletude e desespero?

As faixas avançam abordando esse tema, em uma ordem não muito cronológica e clara. As letras falam do seu espanto inicial e posteriormente abordam sua situação no vazio, e os pensamentos decorrentes.
Nessa etapa se passa um dilema interessante: Ao mesmo tempo em que ele quer voltar ao mundo real, o vazio faz bem a ele.

CONSISTENTE

Não há como não elogiar a consistência do conjunto durante o álbum e carreira. Simplesmente não há faixa ruim, ou músicas que só servem para encher linguiça.
Todas têm o seu papel ao longo da trama. Seja com o metal de abertura, em Voluntary Slavery, com o progressivo tradicional de They Whisper, ou até com uma levada blues, em Where the Lights are Low.

Se Nietzsche ainda estivesse por aqui, certamente teria esse disco na sua cabeceira!

Echoes from a distance voice. Not from where, but when? I’ve been in this place before.

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Beardfish
Ano: 2012
Álbum: The Void
Gênero: Metal Progressivo / Rock Progressivo
País: Suécia
Integrantes: David Zackrisson (guitarra), Magnus Östgren (bateria), Rikard Sjöblom (vocal e teclado), Robert Hansen (baixo).

MÚSICAS:
1 - Introduction
2 - Voluntary Slavery
3 - Turn to Gravel
4 - They Whisper
5 - This Matter of Mine
6 - Seventeen Again
7 - Ludvig & Sverker
8 - He Already Lives in You
9 - Note
10 - Where the Lights Are Low



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Sobre o Unknown

Depois de anos de estudo e dedicação à engenharia, percebi que era tudo um grande pé no saco. Joguei as coisas pro ar e fui para a ilha de Balboa (pode procurar no Google, ela existe!). Agora fico deitado na rede e ouço rock o dia todo.

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