O pós-rock é um gênero muito complicado. A começar pela sua definição. Nascido no fim dos anos 80 e consolidado no começo dos 90 por grupos como Talk Talk, o gênero é constantemente criticado por sua previsibilidade.
O Exquirla surgiu justamente como mais uma dessas ideias mirabolantes, em que certamente os mais céticos rechaçariam na hora, os mais ponderados tentariam convencê-los de que não é bem assim, e só os mais lunáticos levariam o projeto adiante.
Ainda bem que existem os lunáticos.
E SE?
Muitos conjuntos já tentaram explorar o pós-rock usando ideias mirabolantes. Algumas poucas até foram bem aceitas. Apesar de eu achar insuportável, não posso negar a popularidade do Swans.O Exquirla surgiu justamente como mais uma dessas ideias mirabolantes, em que certamente os mais céticos rechaçariam na hora, os mais ponderados tentariam convencê-los de que não é bem assim, e só os mais lunáticos levariam o projeto adiante.
Ainda bem que existem os lunáticos.
“O Exquirla conseguiu, a partir da fusão de dois gêneros já bem saturados, o flamenco e o pós-rock, criar algo totalmente novo. Foi uma mistura perigosa e não estou certo se funcionou, só estou certo que provocou. E isso já é algo bem relevante.”
A FUSÃO DE SEVILHA
Nas terras espanholas e no underground de Sevilha, o conjunto Toundra conseguiu atingir uma relevância memorável. Ainda mais porque estamos falando de um grupo que faz uma música exclusivamente instrumental e fica longe dos eixos mais populares.Foram quatro álbuns de estúdio e boas recepções.
Só que os espanhóis quiseram algo a mais, e foram atrás de um vocalista. O escolhido foi Niño de Elche, conhecido localmente por trabalhos como poeta e músico de flamenco.
O resultado é um instrumental tipicamente voltado ao pós-rock, com todos os seus vícios e virtudes, somado a um vocal único, não necessariamente agradável, mas que contrasta muito bem com os timbres e texturas.
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Imagem do clipe Un hombre, uma síntese do Exquirla. |
UMA IMAGEM
Muitas vezes uma imagem vale mais do que mil palavras. E também vale mais do que mil canções.Talvez a melhor definição de toda essa loucura que é o Exquirla, esteja no clipe de Un hombre (clique aqui para vê-lo).
À medida que a canção vai avançando, um quadro vai sendo pintado na parede.
No cenário, há uma mistura de sentimentos. Desde imagens belas, atravessadas por grandes abstrações, até cenas difusas e perturbadoras. O escorrimento da tinta gera um desconforto, e a imprecisão causa uma curiosidade em tentar adivinhar o próximo passo.
A descrição dessa imagem é a exata definição da sonoridade dos caras.
São momentos calmos e belos, quase bucólicos, como a introdução de Destruidnos juntos, contra-atacados por momentos obscuros e agitados.
E, assim como na imagem, você vê a beleza, mas também vê agonia e incômodo.
O CONTEXTO
Os temas abordados pelo conjunto fazem jus à densidade de Para quienes aún viven. Há uma referência clara à obra do poeta Enrique Falcón, famoso por seu realismo crítico e literatura ativista: “Bem aventuradas essas mãos/ Essas clavículas em passo incerto pelos degraus/ Doloridas do meu corpo branco”.Há um estado de inconformismo, de indiretas bem diretas para (principalmente) o continente europeu e a sua total apatia quanto questões políticas e sociais.
Por exemplo, é impossível ouvir Europa muda e não se lembrar da crise migratória. Uma Europa que grita, mas apenas para si mesma: “Cemitério branco aonde suas canções podem acabar se afogando em um sonho”.
DIFICULDADES
A maior dificuldade foi superada... Era conseguir criar um disco de pós-rock sem soar como tudo que já foi feito antes. O Exquirla conseguiu essa façanha com louvor.A adição do flamenco como elemento vocal trouxe novos ares, mas também novas dificuldades.
O vocal de Niño de Elche é usado muitas vezes como um instrumento auxiliar, e isso compromete a melodia por ficar meio exagerado. O som muitas vezes fica desconfortável, e essa não é minha praia.
O novo quinteto, apesar de já experientes na música, esbarra na inexperiência e imaturidade ao desbravar um estilo completamente distinto.
É um efeito colateral aceitável e comum aos pioneiros, só que não pode ser relevado. É o preço de ser pós-previsível.
Quem sabe um próximo trabalho não nos traga um som mais lapidado e bem acabado? Aguardemos com ansiedade, porque o potencial disso aqui é inegável.
“Porque sé que desconoces; la costa entre el infierno en los estados de sitio.”
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FICHA TÉCNICA:
Artista: Exquirla
Ano: 2017
Álbum: Para quienes aún viven
Gênero: Pós-Rock
País: Espanha
Integrantes: Alberto Tocados (baixo), Álex Pérez (bateria), David López (guitarra), Esteban Girón (guitarra), Niño de Elche (vocal).
MÚSICAS:
1 - Canción de E
2 - Destruidnos juntos
3 - Hijos de la rabia
4 - Interrogatorio
5 - El grito del padre
6 - Contigo
7 - Un hombre
8 - Europa muda

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Exquirla
Ano: 2017
Álbum: Para quienes aún viven
Gênero: Pós-Rock
País: Espanha
Integrantes: Alberto Tocados (baixo), Álex Pérez (bateria), David López (guitarra), Esteban Girón (guitarra), Niño de Elche (vocal).
MÚSICAS:
1 - Canción de E
2 - Destruidnos juntos
3 - Hijos de la rabia
4 - Interrogatorio
5 - El grito del padre
6 - Contigo
7 - Un hombre
8 - Europa muda

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