Angra - Secret Garden (2014): Não deveria ser surpresa.


Em 2011 eu achei que o Angra estivesse acabado, não vou negar. Nesse ano a banda fez a apresentação mais constrangedora da história do Rock in Rio, por problemas técnicos e principalmente problemas vocais.

Os problemas internos eram evidentes, os integrantes não se davam bem, Aqua (2010) não tinha sido bem recebido... Tudo caminhava para um agonizante desfecho.

JUSTIÇA SEJA FEITA

Mea-culpa: Eu não devia ter subestimado os caras.

O Angra, por alguma razão mística que eu não consigo entender, sempre sofreu mais críticas do que deveria (aqui no Brasil).
Seja no caso de críticas individuais, como o exageradamente cornetado ex-vocalista Edu Falaschi, ou no caso de críticas coletivas, dizendo que a banda é arrogante, genérica, comercial, e blá blá blá.

Conspiradores diriam que essas críticas ao grupo são devido ao complexo de vira-lata do brasileiro. Afinal, o cara que xinga o Angra não tem coragem de meter o pau nos Guns n' Roses, apesar de ter muito mais motivo para fazê-lo.
Eu, como não acredito em conspirações, prefiro pensar que se trata de uma mística inexplicável. A mesma mística responsável pelo endeusamento do Angra no Japão.

Galera, vamos ser racionais. O conjunto brasileiro tem seus defeitos? Claro. Só que, perto das virtudes, os defeitos são tranquilamente toleráveis. Os caras são uma das bandas mais importantes do cenário atual, com músicos extremamente competentes, e que merecem mais respeito.
Ou você acha que o Kiko Loureiro foi parar no Megadeth só porque ele foi plagiado pelo rei supremo da música universal (o Parangolé)?
“Mimimi, mas eles são arrogantes, mimimi... Cara, você já trocou ideia com eles? Sabe se eles são arrogantes mesmo? E se forem, qual o problema? Eu quero ouvir um som daora, e não um concurso de miss simpatia.”
Parangolé homenageando Powerslave, do Iron Maiden.

SER OU NÃO SER

Secret Garden é conceitual. Ou não? De acordo com a banda, é. Abaixo vou reproduzir na íntegra o que eles falam sobre o álbum.

O disco traz o seguinte questionamento: Algo que não existe para os olhos ou não é percebido pelos sentidos pode ser concluído como inexistente? As músicas contam em capítulos a estória do cientista Morten Vrolik, que luta para recompor sua felicidade após um trágico acidente que tirou a vida de sua esposa. Diante da nova e dura realidade, Morten é forçado a rever seus valores e crenças ateístas para conseguir recuperar a sensação de satisfação pessoal que lhe foi roubada pelo destino.

Entretanto, a conceitualidade de Secret Garden fica mais no papel do que na prática.

Apesar de não existir uma definição clara sobre o termo, acredito que um álbum conceitual precisa cumprir pelo menos um dos dois requisitos abaixo:
- Uma história que é suficientemente detalhada por meio das canções, de maneira linear, permitindo a total compreensão do ouvinte se for ouvida na sequência (ex.: Amadeus Awad em Death Is Just a Feeling);
- Interações do álbum com outros tipos de mídia, como vídeo clipes conversando com a temática, filmes, livros, arte e outros (ex.: Steven Wilson em Hand. Cannot. Erase.).
Por fim, há um último critério que deve ser obrigatoriamente cumprido:
- O todo tem que ser maior do que a soma das partes (ex.: Pink Floyd em The Wall).
“Vocês são apenas mais um tijolo no muro!” (Roger Waters opinando sobre Secret Garden).

O Angra não cumpre com nenhum dos três critérios acima.

A história não é bem detalhada, todas as músicas deixam o tema bem aberto, o nome de Morten Vrolik não é citado, muito menos detalhes de sua vida, esposa e crenças.
Não há interação com outras mídias. O clipe de Silent Call foi feito descaradamente para o público japonês do grupo, e Final Light conta a história bizarra de um garoto que consome alucinógenos e vai parar no meio de uma batalha aérea. O que isso tem haver com a vida de Morten???
Consequentemente o último critério também não é atingido. Tanto faz ouvir uma música avulsa ou dentro do álbum. O todo não é maior do que as partes.

Ser ou não ser conceitual, eis a questão... Secret Garden não é! E está longe de ser. Se você não concorda, me convença do contrário.

DEIXANDO MORTEN VROLIK

Vamos esquecer a ideia inicial então. Adeus Morten Vrolik, seus serviços não são mais necessários. Vamos para as músicas.

Secret Garden nos apresenta um Angra repaginado. O power metal tem menos espaço, abrindo caminho para o progressivo avançar. A entrada de Fabio Lione nos vocais (Rhapsody of Fire) e Bruno Valverde na batera permitiu um som bem mais agressivo e pesado.

Lógico que nem tudo é diferente, Black Hearted Soul é uma amostra dos elementos clássicos da banda, com coros gregorianos, refrão grudento, acordes rápidos e agudos, solos impossíveis...

Se o começo é morno, na terceira faixa você percebe: A porra ficou séria.
Fabio Lione arregaça no vocal, e o baixo de Andreoli assume grande destaque. O Angra acerta em cheio nas nuances de percussão, pausas, refrão... Só não posso dizer que essa é minha favorita do disco porque Upper Levels ficou ainda mais fodona.

Sim, Upper Levels ficou fera. A introdução é praticamente uma salsa, rapidamente abafada pelas guitarras. Quem dá uma força nessa música é Eduardo Espasande. Aliás, o disco tem tantas participações especiais, que se eu for citá-las terei que criar uma nova postagem.
Fabio Lione, o sincero.

Dentre as participações especiais, a mais relevante é a de Simone Simons (Epica) na faixa título, Secret Garden. A música se desenrola de maneira bem melódica, lembrando muito o que a holandesa costuma cantar na sua banda.
Já a participação mais bem sucedida é a de Doro Pesch (Warlock), em Crushing Room. A escola dela é o heavy metal, e o estilo seguiu assim. Ficaram interessantíssimos os duelos vocais entre ela e Rafael Bittencourt.

POR QUE SURPREENDE?

Quando falamos de Angra, um bom disco não deveria ser surpresa. Não depois de tudo que eles já provaram.
Eu me surpreendi, confesso. Injustamente. Subestimei o Angra, e Secret Garden mostrou quão errado eu estava.

Os brasileiros ganharam um poderoso reforço da Itália, com Lione nos vocais, e que o próximo seja de igual para melhor!

All the answers only led us to the edge; a final light never came and never will.

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Angra
Ano: 2014
Álbum: Secret Garden
Gênero: Metal Progressivo / Power Metal
País: Brasil
Integrantes: Bruno Valverde (bateria), Fabio Lione (vocal), Felipe Andreoli (baixo), Kiko Loureiro (guitarra), Rafael Bittencourt (vocal e guitarra).

MÚSICAS:
1 - Newborn Me
2 - Black Hearted Soul
3 - Final Light
4 - Storm of Emotions
5 - Violet Sky
6 - Secret Garden
7 - Upper Levels
8 - Crushing Room
9 - Perfect Symmetry
10 - Silent Call



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Sobre o Unknown

Depois de anos de estudo e dedicação à engenharia, percebi que era tudo um grande pé no saco. Joguei as coisas pro ar e fui para a ilha de Balboa (pode procurar no Google, ela existe!). Agora fico deitado na rede e ouço rock o dia todo.

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