Haken - Affinity (2016): O prog morreu nos anos 80?


In the Court of the Crimson King, 1969. Aqualung, 1971. 1972 e 73? Nem vou entrar nesse mérito. Wish You Were Here, 1975. A Farewell to Kings, 1977. The Wall, 1979.
Sem delongas, bastam poucos exemplos para notar que a era de ouro do rock progressivo foi a sua primeira década de vida (um pouco mais, o gênero nasceu em 1967).

E 1980? Aí o rock progressivo morreu. Uma morte prematura.

NÃO SEJA TOLO

Se você concordou com a minha última afirmação, não seja tolo. O Haken, não foi.
“Você pode até dizer que o prog dos anos 80 se limitou a Marillion e Rush. Mas quantas outras bandas dos anos 80 você tentou ouvir? Faça uma reflexão. Não é porque você não conhece que não existam outras opções.”
Justamente sobre essa ideia do prog ter morrido na década de 80, o Haken decidiu ousar e fazer um álbum inspirado nesse período. Conforme dito pelo próprio vocalista, Jennings, as pessoas precisam se lembrar que foi uma era essencial para a sonoridade evoluir e chegar aos níveis atuais.

Essa motivação pelo passado inspirou a banda a mudar bastante sua sonoridade em comparação com trabalhos anteriores. Se você espera algo como o The Mountain, pode esperar sentado.
Tejeida deitou e rolou nos sintetizadores e confessou usar como principal influência os trabalhos de Vince DiCola, autor de trilhas sonoras como Rocky IV e Transformers.
Rocky IV, filme mediano e trilha sonora épica!

O NASCIMENTO DOS COMPUTADORES

Pela primeira vez o Haken escreveu todas as músicas em conjunto, nos outros álbuns essa tarefa era quase exclusividade do guitarrista Richard Henshall.

A capa com design retrô é novamente uma alusão à década de 80, utilizando-se bastante da estética da época. Uma curiosidade é a presença dos seis pássaros, que também apareceram na capa de The Mountain.
Os ingleses também redesenharam o site da banda, lembrando um velho sistema operacional.

A ideia é essa. A primeira música tem o nome de um arquivo executável, Affinity.exe, e é bem curta. Apenas ruídos, vozes distorcidas ao fundo, e bipes. Ela é o arquivo capaz de executar o sistema.

Affinity engloba temas como a evolução da computação e sua relação com a humanidade, e as demais consequências dessa interação.
Apesar do tema bem definido, não dá pra dizer que temos um álbum conceitual. O próprio conjunto refutou essa ideia e o descreveu mais como uma trilha de temas parecidos.

LONGE DO TÉDIO

O metal misturado com o prog oitentista gerou uma combinação interessante. Mais interessante ainda porque ela expande os horizontes para pequenos toques de música eletrônica e djent.

Muitas faixas se destacam, e o mais importante: Cada uma à sua maneira. Se tiver uma crítica que não pode jamais ser feita ao Affinity, é a de ele ser repetitivo ou monótono.
A banda ousa e experimenta em praticamente todas as faixas. Seja na timbragem de Lapse, no ar pop de Earthrise ou na bateria vintage de 1985.

The Architect conta com a participação especial de Einar Solberg, da banda Leprous. Ele dá um suporte nos vocais mais guturais. Apesar de muitos terem idolatrado essa música, eu não consegui me encantar. Achei longa demais.
Por coincidência (ou não), muitas críticas disseram que a sonoridade do Haken se assemelhou muito com a do Leprous em algumas músicas.
Haken e Leprous juntos em turnê. Natural que as bandas troquem influências.

Ross Jennings, perguntado sobre eventuais semelhanças com o Leprous, respondeu de forma bem humorada: Nada pode ser 100% original hoje em dia, a não ser que você arrote uma melodia cromática em 13/9 com sete gatos miando aleatoriamente em um didjeridu* enquanto uma gaita de foles faz o som de fundo.
Fica então a ideia para o próximo álbum do Dream Theater.

*Mas que diabos é um didjeridu?

O SILÊNCIO DIZ MUITO

O Haken fez um álbum tão interessante, e só no final da resenha me lembrei de que não havia comentado sobre a saída de Thomas MacLean e a entrada de Conner Green no baixo.
Esse meu esquecimento já diz muito. Conner deu conta do recado.

E, antes que eu me esqueça novamente, Affinity tem seus pontos baixos. Red Giant e Bound by Gravity. Não é o sufiiciente para comprometer.

Pode-se dizer que meu quase silêncio sobre esses dois temas já diz muita coisa. Se fossem pontos realmente relevantes, os teria discutido mais profundamente.
E se você ainda acha que o prog morreu nos anos 80, quem sou eu para discordar? Mas saiba que esse prog renasceu em 2016, com Affinity.

Conceived by desire; or compelled by certainty? Did I decide; or did the road choose me?

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Haken
Ano: 2016
Álbum: Affinity
Gênero: Metal Progressivo
País: Inglaterra
Integrantes: Charles Griffiths (guitarra), Conner Green (baixo), Diego Tejeida (teclado), Raymond Hearne (bateria), Richard Henshall (guitarra), Ross Jennings (vocal).

MÚSICAS:
1 - Affinity.exe
2 - Initiate
3 - 1985
4 - Lapse
5 - The Architect
6 - Earthrise
7 - Red Giant
8 - The Endless Knot
9 - Bound by Gravity



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Quem usa o Google Plus?

Sobre o Unknown

Depois de anos de estudo e dedicação à engenharia, percebi que era tudo um grande pé no saco. Joguei as coisas pro ar e fui para a ilha de Balboa (pode procurar no Google, ela existe!). Agora fico deitado na rede e ouço rock o dia todo.

4 comentários :

  1. Esse álbum do Haken ficou bem legal mesmo, mas prepare-se pra ficar ouvindo "Two steps back, one leap forward" na cabeça por meses hahaha. Estou tentando me desintoxicar dessa música, gruda na cabeça!

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    1. Isso é coisa do capiroto! Pior que li no ritmo da música e ainda complementei mentalmente com "you led your shackles for the grace".

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  2. parabens pelo blog. Descobri hoje. Pra mim esse play do Haken, junto com o último do Fates Warning são os melhores lançamentos de progmetal do ano.

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    1. Valeu!
      Ainda não ouvi o do Fates Warning... Vou seguir a dica e colocar na minha playlist!

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