Kings of Leon - Walls (2016): Mais um na multidão.


Contar sobre as mudanças ao longo da carreira do Kings of Leon seria cansativo e repetitivo. É quase um conhecimento universal a drástica guinada que a banda deu em 2008, com Only by the Night.
De caipiras lenhadores, que faziam um rock garageiro, a astros do pop rock. Saem as barbas, entra o gel e o creme hidratante.

O IMPACTO COMERCIAL

Você pode xingar muito no Twitter, espernear, reclamar com seus amigos... Não vai adiantar, sinto lhe informar.
Os Followill, irmãos e primos de Nashville, mudaram. Ponto e basta. Isso é definitivo. Se você quer ouvir o antigo Kings of Leon, pode parar por aqui.

Muitos viram essa mudança como algo negativo. Dizem que a banda se vendeu, traíram o movimento, ficaram muito comerciais...
Por mais que as três afirmações acima possam ser verdadeiras, vou te fazer uma pergunta. Qual é o problema de fazer uma música mais comercial? Eu sinceramente não vejo nenhum.
“A não ser que me provem que a música comercial é testada em animais, tortura prisioneiros políticos, mata baleias, ou é escrita por escravos bolivianos, continuarei sem entender o porquê de muitos criminalizarem o estilo.”
A questão é direta, e contra fatos não há argumentos. Antes de 2008 o Kings of Leon era só mais um na multidão. Um grupo com bons álbuns, mas pouco conhecido e ofuscado por gigantes do seu estilo.

Não bota fé? Vamos consultar o pai Google.
Kings of Leon x The Strokes x The White Stripes

Fiz uma comparação entre Kings of Leon (azul), The Strokes (vermelho) e The White Stripes (amarelo). O gráfico acima mostra as métricas de busca para cada conjunto.
Não escolhi esses nomes por acaso. The Strokes e The White Stripes eram, nessa época, os maiores nomes do rock garageiro (gênero em que o Kings of Leon buscava seu lugar ao sol).

Note como os caipiras nunca conseguiram chegar nem perto de ter uma boa relevância. O único momento em que a banda lidera as buscas é com o lançamento de Because of Times. Só que semanas depois, Icky Thump simplesmente dá uma lavada e dispara na liderança.

Então, muito astutos e muito bem orientados, os caras resolvem radicalizar. Com uma estética totalmente nova, mais comportados e focados em um público radicalmente oposto ao de antes, surge o álbum Only by the Night.
Hits radiofônicos e sucessos como Sex on Fire e Use Somebody alçaram a banda para um outro patamar. A estratégia deu certo e eles deixaram de ser mais um na multidão. Repare como as métricas explodem no gráfico e (mais importante) se mantêm no topo.

O POP É CRUEL

Como diria uma música do Titãs: “Quinze minutos de fama/ Mais um pros comerciais/ Quinze minutos de fama/ Depois descanse em paz”.
É exagero? Pode até não ser.

O pop é cruel, porque há um problema de fidelidade e na maneira em como ele é consumido.

Pegue um metaleiro como exemplo. Esse talvez seja o público mais fiel de todos. Se o cidadão gosta de uma banda, ele costuma conhecer toda a discografia dos caras, além de outras formas de consumo, como shows, biografias, singles, e por aí vai. Tudo o que a banda lançar ele vai acompanhar, mesmo sendo algo de qualidade duvidosa.
Isso também é ruim, pois impede que novas bandas surjam no cenário. Mas falo disso outro dia.

Já no caso do pop, a coisa funciona meio diferente. O ouvinte não vai atrás de conteúdo. Ele espera que o conteúdo vá atrás dele. O lado bom é que isso permite com que várias bandas novas pipoquem o tempo todo. Em contrapartida, elas desaparecem na mesma velocidade em que apareceram.

Ficar no topo, dentro do pop rock, é para poucos. E o Kings of Leon vem sofrendo com esse mal.
A popularidade do Kings of Leon despenca mais que as ações da Petrobrás.

COMITÊ DE CRISE

Situações desesperadoras pedem medidas desesperadas. E os norte-americanos, vendo essa situação (e provavelmente sentindo ela no bolso), resolveram tentar outro caminho.

Walls conta com uma novidade na produção. Deram um pé na bunda de Angelo Petraglia, que estava com os Followill desde os primórdios, e chamaram um nome de peso, Markus Dravs. O novo produtor é calejado nesse meio, tendo produzido Arcade Fire, Coldplay, Björk...
Quem acompanha futebol sabe, às vezes não adianta colocar um técnico medalhão. Na produção de álbuns, o mesmo vale para o produtor.

Apesar da mudança, Walls continua relativamente parecido em sonoridade com o trabalho anterior, Mechanical Bull (2013).

Waste a Moment foi eleita para ser uma das músicas de trabalho e abrir Walls. Ela tem uma levada legal, a letra conta uma breve história de uma garçonete e um marido possessivo, e nos contempla com um refrão grudento até demais. Genérica, não é o tipo de música capaz de causar impacto.

Minha empolgação veio mesmo com Reverend. Comecei ouvindo uma pegada mais country e achei o início sensacional. A brisa é cortada quando começa o refrão. Meloso e enjoativo, ele se repete infinitamente enquanto a música tem apenas dois versos. Era para ser um ponto alto, mas Reverend vira o ponto vergonha alheia de Walls.
Clipe de Around the World, a prova de que o pop bem feito é bom.

MAIS RISCOS

O álbum começa a ficar mais interessante quando o Kings of Leon resolve assumir mais riscos. É o caso de Around the World. É um pop rock clássico, mas com a incorporação de uma instrumentação bem interessante, com elementos mais suingados, variações, e uma dinâmica agradável.

Outro destaque mais voltado para o pop é Find Me, que apesar da letra quase banal, oferece um agito e empolga.

Muchacho e Conversation Piece também entram na categoria das melhores faixas.
A primeira tem uma ambientação mais triste, se contrapondo ao que vinha sido oferecido até agora. Posteriormente, em uma entrevista, revelou-se que essa música é uma homenagem ao falecido diretor artístico Brett Kilroe.
Conversation Piece é bem country, e nos relembra porque um dia chegaram a comparar Kings of Leon com Lynyrd Skynyrd.

A grande decepção fica por conta da faixa WALLS. O nome é um anacronismo de “we are like love songs” (“nós somos como canções de amor”). Eu esperava muito, até pelo fato de ela dar o nome ao álbum.
Entretanto, o Kings of Leon não quis correr riscos aqui, e entregou uma melodia repetitiva, sonolenta, e preguiçosa. Era para ser um momento romântico e íntimo, mas é impossível aguentar os cinco minutos com a bateria e cordas repetindo o mesmo som do início ao fim. Variação zero, sono mil.

O DESAFIO É MAIOR

Diferenciar-se em uma cena mais comercial é um desafio quase sobrenatural. A concorrência é imensa. É como sobreviver em um mar vermelho.
O desafio do Kings of Leon não é oferecer bons momentos ao seu ouvinte. Isso Walls foi capaz de entregar em algumas faixas. O desafio é maior é entregar “o” momento.

Enquanto eles não conseguirem esse momento, serão apenas mais um na multidão. Só que dessa vez, diferentemente da época garageira, a multidão é muito maior.

He'd let you rise; then take the fall. He was my favorite friend of all.

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Kings of Leon
Ano: 2016
Álbum: Walls
Gênero: Pop Rock / Rock Alternativo
País: Estados Unidos
Integrantes: Caleb Followill (vocal e guitarra), Jared Followill (baixo), Matthew Followill (guitarra), Nathan Followill (bateria).

MÚSICAS:
1 - Waste a Moment
2 - Reverend
3 - Around the World
4 - Find Me
5 - Over
6 - Muchacho
7 - Conversation Piece
8 - Eyes on You
9 - Wild
10 - WALLS



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Quem usa o Google Plus?

Sobre o Unknown

Depois de anos de estudo e dedicação à engenharia, percebi que era tudo um grande pé no saco. Joguei as coisas pro ar e fui para a ilha de Balboa (pode procurar no Google, ela existe!). Agora fico deitado na rede e ouço rock o dia todo.

1 comentários :

  1. Pra mim acho que o problema não é nem ser "pop" ou "mainstream", veja o Crossover Prog, que pega emprestado estruturas, ritmos e ideias do "pop" e "mainstream". É fazer mais do mesmo, independente do gênero, esse sim é o problema. Se você faz mais do mesmo, dependendo do gênero, é um atestado de óbito instantâneo. Como você bem falou, no heavy metal muitas vezes os fãs idolatram exatamente o mais do mesmo, mas no pop, no indie, no Prog, se você é mais do mesmo, você está fadado ao esquecimento. As pessoas vão lembrar de você quando você algo diferente ou que bombou, e o resto ou vai ser ignorado ou rechaçado. Conheço bem pouco do Kings of Leon, talvez mais singles, como
    Molly's Chambers do primeiro álbum se não me engano e o álbum Only by the Night, mas mesmo esta pegada antiga deles já me parecia ir em direção a algo mais "mainstream". Deste álbum ouvi Waste a Moment e Walls. Sinceramente, mais do mesmo que toca nas rádios. No começo de Waste a Moment, nos primeiros segundos, achei que tinha algo ali mas que se perdeu quando entrou a guitarra de sempre. Ai vem a voz, com um leve efeito "rádio" pra parecer "retrô" e o refrão qualquer coisa que parece o de sempre. Já Walls é extremamente catatônica e sem sal. Tem que esperar quase 3:30 pra começar alguma coisa. Se fosse Prog eu teria mais paciência, provavelmente teria umas texturas, agora no mainstream não há essa preocupação no geral. A preocupação aqui é marketing e alcance. Talvez essas músicas de trabalho atinjam rádios, playlists, mas o álbum em si, não sei. Como você bem falou, e bem sei, fãs de mais do mesmo não costumam investir em álbuns e sim em singles.

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