Perturbador, caótico, agonizante, paradoxalmente belo.
Esse é Loki?, o disco de estreia da carreira solo do ex-Mutante Arnaldo Baptista. Um dos grandes clássicos do rock nacional, nascido nos conturbados (e por vezes não tão distantes) anos 70.
Para compreendê-lo, é necessário entender (se é que isso é possível) a situação do Arnaldo naquela época.
O cara tinha acabado de sair d’Os Mutantes e se separado da sua esposa Rita Lee. Vivia um momento de muitas dúvidas profissionais e amorosas.
A ditadura estava cada vez mais violenta.
Além disso, ele estava afundado no LSD.
Completamente na lama, o disco Loki? saiu com um desabafo, um diário de seus delírios e sentimentos.
Reza a lenda que esse fato gerou diversos atritos com os músicos e a gravadora, que queriam refazer algumas coisas para dar uma melhorada no trabalho, corrigir erros e imperfeições.
Mas Arnaldo permaneceu irredutível. Loki? foi encarado por ele como um diário escrito sem borracha ou rascunhos.
Obviamente essa postura gera um efeito colateral. Nem tudo soa tão certo, e algumas coisas ficam demasiadamente improvisadas.
Entretanto, isso não é motivo para subestimar o poder de Loki?. A citação abaixo, ligeiramente adaptada e retirada de um ótimo texto do Carlos Viegas (clique aqui para ler), é irrefutável.
A LOUCURA ESTEVE PERTO
Loki?, se olhado de longe, é um álbum um tanto quanto simplista.Para compreendê-lo, é necessário entender (se é que isso é possível) a situação do Arnaldo naquela época.
O cara tinha acabado de sair d’Os Mutantes e se separado da sua esposa Rita Lee. Vivia um momento de muitas dúvidas profissionais e amorosas.
A ditadura estava cada vez mais violenta.
Além disso, ele estava afundado no LSD.
Completamente na lama, o disco Loki? saiu com um desabafo, um diário de seus delírios e sentimentos.
UM DIÁRIO SEM BORRACHA
O instrumental é extremamente simples. Arnaldo revolucionou musicalmente e fez algo diferente de qualquer coisa já produzida até então. Tudo acontece ao redor do piano, e todas as músicas foram gravadas no primeiro take. Sem ensaios, sem repetições.Reza a lenda que esse fato gerou diversos atritos com os músicos e a gravadora, que queriam refazer algumas coisas para dar uma melhorada no trabalho, corrigir erros e imperfeições.
Mas Arnaldo permaneceu irredutível. Loki? foi encarado por ele como um diário escrito sem borracha ou rascunhos.
Obviamente essa postura gera um efeito colateral. Nem tudo soa tão certo, e algumas coisas ficam demasiadamente improvisadas.
Entretanto, isso não é motivo para subestimar o poder de Loki?. A citação abaixo, ligeiramente adaptada e retirada de um ótimo texto do Carlos Viegas (clique aqui para ler), é irrefutável.
“Sem querer, Arnaldo compôs baladas suicidas muito antes do Joy Division e produziu um disco sem guitarras 30 anos antes do Keane se achar inovador por fazer exatamente a mesma coisa. Mesmo a um passo do manicômio, ele era capaz de transformar a sua loucura.”
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Arnaldo gravou Loki? mais louco que o Batman de 1966. |
SALADA DE SENTIMENTOS
As letras são o espelho da cabeça de Arnaldo Baptista.A abertura, com Será que eu vou virar bolor?, é emblemática. Parece que o resto do álbum é feito sobre essa faixa. Ela mostra um resumo das preocupações de Arnaldo, com várias pequenas e sutis sacadas ao longo da letra, que vão mostrando o seu lamentável estado de espírito.
De cara ele já fala da dificuldade em lidar com seu passado, esquecer Rita Lee e Os Mutantes (“Venho me apegando ao passado/ E em ter você ao meu lado...”). Nela também fica claro o medo que ele tinha de ser esquecido (“Será que eu vou morrer de dor?/ Será que eu vou virar bolor?”).
Mas o principal detalhe fica por conta da curta frase “Eu vou voltar pra Cantareira...”. Era naquela região que Arnaldo tinha uma casa com Rita.
As referências à Rita Lee pipocam por todo o trabalho e evidenciam a dificuldade dele lidar com a separação. É difícil não imaginar que Te amo podes crer e Desculpe não tenham sido escritas para ela (“Não sou perfeito/ Nem mesmo você é/ Me abrace/ Diga-me o meu nome/ Diga-me que você me quer”).
E o fato de Rita ter participado da gravação de Loki? é mais um ponto que evidencia esse vínculo.
Mas Loki? não é só amor. É uma salada de sentimentos.
Por vezes, beira o nonsense. Algumas frases são jogadas e elas não ligam nada a lugar nenhum. Uma pessoa só é um exemplo de que a viagem pode passar da dose, e a loucura sobrepõe qualquer possibilidade de entendimento.
Navegar de novo é um desabafo pseudo-politizado, em que Arnaldo reclama da inflação e má distribuição de renda, de maneira quase infantil (fora as brisas sobre velocidade da luz, quando ele resolve falar de física no meio do surto).
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É possível quebrar a velocidade da luz, pois ela é relativa. Arnaldo quebrou Einstein. |
Tentativas de reagir e “ligar o foda-se” (Não estou nem aí), a busca de um novo amor, ou uma nova paixão (Vou me afundar na lingerie), a loucura e as drogas (Cê tá pensando que eu sou lóki?)... Loki? é um espelho de uma mente andando na linha fina da loucura e razão.
O disco foi um fracasso de vendas, mesmo carregando o famosíssimo nome de Arnaldo Baptista e participações de ex-Mutantes.
E as causas foram muitas.
Além de problemas na divulgação e uma sonoridade totalmente estranha para os anos 70, a capa horrível certamente funcionou como um repelente natural. O cara sem camisa, apoiado em uma cadeira, com o espaço sideral e parte das suas costas ao fundo... Nada muito convidativo.
O ostracismo de Loki? contribuiu para que Arnaldo se afundasse ainda mais, sendo internado um pouco mais adiante. A primeira, de muitas internações.
O SURTO
É uma obra de difícil digestão, apesar de sua simplicidade musical. A complexidade psicológica imposta pelo disco é certamente uma barreira. Quando ouvido fora do contexto soa cruelmente como uma viagem sem nexo. Hoje consagrado, Loki? não foi compreendido em seu tempo.O disco foi um fracasso de vendas, mesmo carregando o famosíssimo nome de Arnaldo Baptista e participações de ex-Mutantes.
E as causas foram muitas.
Além de problemas na divulgação e uma sonoridade totalmente estranha para os anos 70, a capa horrível certamente funcionou como um repelente natural. O cara sem camisa, apoiado em uma cadeira, com o espaço sideral e parte das suas costas ao fundo... Nada muito convidativo.
O ostracismo de Loki? contribuiu para que Arnaldo se afundasse ainda mais, sendo internado um pouco mais adiante. A primeira, de muitas internações.
“Cê tá pensando que eu sou lóki, bicho? Malandro velho não se mete no enguiço.”
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FICHA TÉCNICA:
Artista: Arnaldo Baptista
Ano: 1974
Álbum: Loki?
Gênero: Piano Rock / Rock Psicodélico
País: Brasil
Integrantes: Arnaldo Baptista (vocal e piano), Dinho Leme (bateria), Liminha (baixo), Rita Lee (vocal).
MÚSICAS:
1 - Será que eu vou virar bolor?
2 - Uma pessoa só
3 - Não estou nem aí
4 - Vou me afundar na lingerie
5 - Honky Tonky (Patrulha do Espaço)
6 - Cê tá pensando que eu sou lóki?
7 - Desculpe
8 - Navegar de novo
9 - Te amo podes crer
10 - É fácil

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Arnaldo Baptista
Ano: 1974
Álbum: Loki?
Gênero: Piano Rock / Rock Psicodélico
País: Brasil
Integrantes: Arnaldo Baptista (vocal e piano), Dinho Leme (bateria), Liminha (baixo), Rita Lee (vocal).
MÚSICAS:
1 - Será que eu vou virar bolor?
2 - Uma pessoa só
3 - Não estou nem aí
4 - Vou me afundar na lingerie
5 - Honky Tonky (Patrulha do Espaço)
6 - Cê tá pensando que eu sou lóki?
7 - Desculpe
8 - Navegar de novo
9 - Te amo podes crer
10 - É fácil

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