Adrian Smith poderia estar pescando. Bruce Dickinson poderia estar socando Axl Rose. Gers treinando seus malabares. Harris ensinando baixo para sua filha. Dave Murray? Comendo trakinas. E Nicko estudando teologia. Mas não, os tiozinhos do metal não perdem o fôlego nunca, e aqui estão eles com mais um novo trabalho, The Book of Souls.
Antes de prosseguir, é preciso entender o que é o Iron Maiden hoje. Se você estiver esperando algo mais oitentista, com aquelas músicas rápidas e rasgadas, flertando com o punk rock... Esquece. Nem continue, pode parar aqui.
O conjunto inglês mudou, e desde Brave New World (2000) a pegada é muito mais influenciada pelo metal progressivo. Se te servir de consolo, estão bem menos proggers do que os dois últimos discos.
Alguns exageros e clichês estão presentes, é claro. The Book of Souls não é perfeito (está longe disso). Algumas músicas se alongam mais do que deviam, solos jogados parecem encheção de linguiça, e nem todas as faixas agregam valor ao álbum.
A sensação é de que menos seria mais. Se os cerca de noventa minutos de música fossem convertidos em sessenta, seria o suficiente. Lançar um álbum duplo pareceu desnecessário. Ouvir tudo em uma tacada só é meio cansativo.
ESQUEÇA OS ANOS 80
O disco quase não aconteceu, é verdade. A continuidade da banda foi colocada em cheque após o terrível diagnóstico de um câncer na língua do vocalista Bruce Dickinson. Mas o paraíso pôde esperar, e o sexteto seguiu na estrada (ou no ar).Antes de prosseguir, é preciso entender o que é o Iron Maiden hoje. Se você estiver esperando algo mais oitentista, com aquelas músicas rápidas e rasgadas, flertando com o punk rock... Esquece. Nem continue, pode parar aqui.
O conjunto inglês mudou, e desde Brave New World (2000) a pegada é muito mais influenciada pelo metal progressivo. Se te servir de consolo, estão bem menos proggers do que os dois últimos discos.
Alguns exageros e clichês estão presentes, é claro. The Book of Souls não é perfeito (está longe disso). Algumas músicas se alongam mais do que deviam, solos jogados parecem encheção de linguiça, e nem todas as faixas agregam valor ao álbum.
A sensação é de que menos seria mais. Se os cerca de noventa minutos de música fossem convertidos em sessenta, seria o suficiente. Lançar um álbum duplo pareceu desnecessário. Ouvir tudo em uma tacada só é meio cansativo.
“Viúvas, o Iron Maiden não vai lançar um novo Powerslave ou um novo The Number of the Beast. Se você está esperando algo nessa linha, pode esperar sentado. A banda mudou, o último disco nesse estilo foi em 92. Então desencane dessa nostalgia.”
Ah, eu falei que o Adrian estava pescando!! |
PECOU PELO EXCESSO
A tradição de grandes letristas continua. Logo na abertura, com If Eternity Should Fail, o livro das almas já mostra a que veio. A donzela nos apresenta Necropolis, um cara gente fina que vive dos mortos e é responsável por colher a alma da carne, tudo isso para que ele possa alimentar seus dois filhos.Personagens bizarros à parte, a música abre muito bem o disco, arranjos de sintetizadores com guitarras dão um clima sombrio, e as tradicionais cavalgadas de Harris ditam o ritmo. Uma curiosidade é que a música foi composta originalmente por Dickinson para sua carreira solo.
E se no começo do texto eu falei que haviam alguns exageros, a quarta faixa, The Red and The Black, é o exemplo. As duas canções anteriores não são muito empolgantes, e quando começa The Red and The Black, com uma introdução meio flamenca e um poderoso riff na sequência, o ouvinte se levanta da cadeira e começa a balançar a cabeça.
O problema é que tudo se alonga demais, muitas repetições e solos infinitos acabam deixando tudo cansativo. A música que era pra ser épica (achei os “ô-ô-ôs” sensacionais) deixa aquela sensação de que poderia ter sido melhor.
O LADO B
O lance começa a ficar bom mesmo é quando o álbum vira. O segundo disco mostra bem mais conteúdo. Death or Glory traz bastante peso (e é finalmente enxuta!). Seus versos narram uma batalha aérea: “Eu te vejo espiral abaixo/ Morto antes de atingir o chão”...Só que isso já foi feito em Aces High e Tailgunner... Mais do mesmo? De certa forma, sim.
A discografia do Iron Maiden tem mais batalhas aéreas que o simulador Tom Clancy's. |
Eis que logo na sequência da Aces High genérica, temos Wasted Years. Que? Como? Ah não, é Shadows of the Valley. Brincadeiras à parte, o Iron repete a introdução da Wasted Years em Shadows of the Valley. Mais do mesmo? Mais uma vez sim. Só que, justiça seja feita, o restante da música é bem original, e me agradou.
Já estava meio conformado que The Book of Souls seria apenas algo bom, mas sem grandes brilhos. Então Tears of a Clown aparece como um soco no estômago. Tempos quebrados na introdução e uma levada extremamente agressiva contrastam com uma letra bem delicada, uma homenagem ao falecido ator Robin Williams, encontrado enforcado em sua casa no ano de 2014 (“Tudo parece bem por fora/ Mas debaixo da verdade solene/ Há algo que dentro está morto”).
A faixa é construída através de linhas de piano, instrumento até então nunca utilizado pelos ingleses. Ao longo de seus dezoito minutos conta a história do dirigível R101 e seu desastre aéreo em 1930 (“Ela é a maior nave já feita pelo homem/ A gigante dos céus/ E para todos os céticos/ O Titanic cabe lá dentro”).
Ainda sobre Empire of the Clouds, costumo ser um grande crítico de músicas longas, geralmente porque elas não precisam ser longas! Muitas vezes não há conteúdo para preencher tanto tempo.
Entretanto, esse é um raro caso em que o tamanho fez-se necessário. A narrativa e instrumental são belíssimos e seus dezoito minutos passam voando enquanto você consegue praticamente visualizar o dirigível no céu e a tempestade chegando. Bruce conta toda a história coberto por um instrumental magnífico.
A resposta está nesse disco: A história.
Sim, pois foram justamente nas faixas inspiradas em fatos reais ou pessoas, que as melhores músicas se revelaram. Robin Williams e o R101 tiveram belíssimas homenagens.
E que o próximo não tarde! Vida longa aos Irons!!!
Já estava meio conformado que The Book of Souls seria apenas algo bom, mas sem grandes brilhos. Então Tears of a Clown aparece como um soco no estômago. Tempos quebrados na introdução e uma levada extremamente agressiva contrastam com uma letra bem delicada, uma homenagem ao falecido ator Robin Williams, encontrado enforcado em sua casa no ano de 2014 (“Tudo parece bem por fora/ Mas debaixo da verdade solene/ Há algo que dentro está morto”).
FECHOU COM CHAVE DE OURO
Para finalizar The Book of Souls, mais do mesmo? Não. Dessa vez, definitivamente não. Empire of the Clouds é diferente de tudo que o Iron Maiden já apresentou. Talvez seja a maior inovação desde a acústica Journeyman, do disco Dance of Death (2003).A faixa é construída através de linhas de piano, instrumento até então nunca utilizado pelos ingleses. Ao longo de seus dezoito minutos conta a história do dirigível R101 e seu desastre aéreo em 1930 (“Ela é a maior nave já feita pelo homem/ A gigante dos céus/ E para todos os céticos/ O Titanic cabe lá dentro”).
Ainda sobre Empire of the Clouds, costumo ser um grande crítico de músicas longas, geralmente porque elas não precisam ser longas! Muitas vezes não há conteúdo para preencher tanto tempo.
Entretanto, esse é um raro caso em que o tamanho fez-se necessário. A narrativa e instrumental são belíssimos e seus dezoito minutos passam voando enquanto você consegue praticamente visualizar o dirigível no céu e a tempestade chegando. Bruce conta toda a história coberto por um instrumental magnífico.
QUE NÃO FALTE MOTIVAÇÃO
Utilizando um verso da música Tears of a Clown, me pergunto: “Quem motiva o motivador”? Que o Iron Maiden é inspiração para muitos, não é novidade. Mas quem inspira eles? Ainda mais depois de tantos e tantos anos...A resposta está nesse disco: A história.
Sim, pois foram justamente nas faixas inspiradas em fatos reais ou pessoas, que as melhores músicas se revelaram. Robin Williams e o R101 tiveram belíssimas homenagens.
E que o próximo não tarde! Vida longa aos Irons!!!
“Reef in a sail at the edge of the world; if eternity should fail. Waiting in line for the ending of time; if eternity should fail.”
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FICHA TÉCNICA:
Artista: Iron Maiden
Ano: 2015
Álbum: The Book of Souls
Gênero: Heavy Metal / Metal Progressivo
País: Inglaterra
Integrantes: Adrian Smith (guitarra), Bruce Dickinson (vocal e piano), Dave Murray (guitarra), Janick Gers (guitarra), Nicko McBrian (bateria), Steve Harris (baixo).
MÚSICAS:
1 - If Eternity Should Fail
2 - Speed of Light
3 - The Great Unknown
4 - The Red and the Black
5 - When the River Runs Deep
6 - The Book of Souls
7 - Death or Glory
8 - Shadows of the Valley
9 - Tears of a Clown
10 - The Man of Sorrows
11 - Empire of the Clouds
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FICHA TÉCNICA:
Artista: Iron Maiden
Ano: 2015
Álbum: The Book of Souls
Gênero: Heavy Metal / Metal Progressivo
País: Inglaterra
Integrantes: Adrian Smith (guitarra), Bruce Dickinson (vocal e piano), Dave Murray (guitarra), Janick Gers (guitarra), Nicko McBrian (bateria), Steve Harris (baixo).
MÚSICAS:
1 - If Eternity Should Fail
2 - Speed of Light
3 - The Great Unknown
4 - The Red and the Black
5 - When the River Runs Deep
6 - The Book of Souls
7 - Death or Glory
8 - Shadows of the Valley
9 - Tears of a Clown
10 - The Man of Sorrows
11 - Empire of the Clouds
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