David Gilmour - Rattle That Lock (2015): Sem preguiça.


O que podemos esperar do David Gilmour? Sabemos que sua história é inquestionável, e alguns de seus trabalhos podem, sem a vulgarização da palavra, levar o rótulo de genial.

EM RESPEITO AO PASSADO

Mas, devemos ser honestos e admitir que ultimamente o cara não anda muito inspirado. A gota d’água foi o álbum The Endless River, lançado em 2014 (e pior, levando o nome do Pink Floyd).
Foi um trabalho preguiçoso, que usou apenas sobras de estúdio do The Division Bell (1994), e deixou bem claro o motivo daquelas faixas não terem entrado no disco original.
Tudo soou como uma reciclagem barata de lixo, com o único propósito de ganhar dinheiro. The Endless River foi um caça níquel e nada mais.

Por essa e por outras, eu sequer tive vontade de ouvir Rattle That Lock quando ele saiu. E o único motivo para eu voltar atrás na minha decisão, foi o respeito e admiração por tudo que o Gilmour já foi capaz de fazer.

ESPOSA, TRENS, WRIGHT...

Em entrevistas sobre o Rattle That Lock, David Gilmour falou da esposa e seu papel na criação e desenvolvimento das letras. A esposa de Gilmour, Polly Samson, é uma escritora, e ajudou o guitarrista a compor grande parte do álbum.

Por exemplo, a faixa título (Rattle That Lock), foi toda escrita por Polly. Coincidência ou não, essa é a melhor música presente no disco.
A letra foi baseada no poema Paraíso Perdido, de John Milton, escrito lá no século 17. O poema fala sobre a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden.
Outra curiosidade fica por conta do riff, uma sequência de notas retirada do jingle de uma companhia francesa de trens, a SNCF. Clique aqui para comparar.
“É engraçado imaginar a reação dos franceses ao ouvir o riff de Rattle That Lock pela primeira vez... Deve rolar um sentimento de que já ouviram isso em algum lugar! E também imagino o orgulho que o criador do jingle está sentindo agora.”
Costumeiramente atrasados, o jingle dos trens franceses virou piada entre eles.

Além da esposa e de jingles espalhados pelo mundo, outra inspiração evidente do Gilmour é seu ex-companheiro de Pink Floyd, Richard Wright.
E A Boat Lies Waiting é uma bela homenagem ao falecido tecladista, inclusive usando linhas de teclados criadas por ele, conforme revelado pelo próprio David. A música fala sobre a inevitável morte (“O que eu perdi foi um oceano/ E eu estou passando logo atrás de você/ Nesse triste barco”).

MÚSICA DE AMBIENTE

Outras duas músicas que se destacaram foram In Any Tongue e Today. A primeira tem um acompanhamento melancólico e uma letra que fala sobre o sentimento de pais que veem filhos se tornarem assassinos (“O que foi que ele fez?/ Deus ajude meu filho”).
Today, pelo contrário, já tem uma pegada mais solta e alegre. Serve bem para dar uma animada.

Outra música que me empolgou no começo foi The Girl in the Yellow Dress. Ela surpreende pela sua levada bem marcada pelo baixo, e um sax no fundo. É interessante ver o Gilmour indo para esse lado mais jazz e abandonando o foco nas guitarras.
Entretanto a interpretação fica muito repetitiva, e o início interessante se perde em meio ao tédio. Também é possível notar que sua voz agoniza para chegar a notas mais altas. Tudo bem que cantar nunca foi seu forte, mas o peso da idade deixa isso ainda mais evidente.

De forma geral, não há nenhuma música ruim. Também não há grandes arranjos e complexidades que tornam a audição difícil. Rattle That Lock não pede muita atenção do ouvinte.
Em contrapartida, é difícil de se lembrar das canções quando o disco para de tocar. Não há nada marcante na cabeça. Isso faz do trabalho um ótimo álbum para músicas de ambiente, mas não é algo que vá trazer aquela vontade de parar o que está fazendo só para ouvi-lo.

SEM PREGUIÇA

Meus temores iniciais, de mais um álbum preguiçoso e caça-níquel, como foi The Endless River, não se concretizaram. Rattle That Lock possui um conteúdo bem mais aproveitável e vai muito além de restos de estúdio.
Óbvio que não é um disco marcante, muito menos revolucionário. David Gilmour passa longe da ousadia. Acredito que até por opção do próprio... Ele parece mais a fim de curtir um som com amigos do que lançar um novo The Dark Side of the Moon.

Rattle That Lock talvez agrade mais ouvintes ocasionais do que seguidores do Pink Floyd. E David Gilmour sabe disso.

She flips a pack of cigarettes; he doesn't smoke but he takes one nonetheless. It helps to keep his motives true.

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FICHA TÉCNICA:
Artista: David Gilmour
Ano: 2015
Álbum: Rattle That Lock
Gênero: Rock Progressivo
País: Inglaterra
Integrantes: Damon Iddins (teclado), David Gilmour (vocal, guitarra e baixo), Phil Manzanera (baixo).

MÚSICAS:
1 - 5 A.M.
2 - Rattle That Lock
3 - Faces of Stone
4 - A Boat Lies Waiting
5 - Dancing Right in Front of Me
6 - In Any Tongue
7 - Beauty
8 - The Girl in the Yellow Dress
9 - Today
10 - And Then...



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Quem usa o Google Plus?

Sobre o Unknown

Depois de anos de estudo e dedicação à engenharia, percebi que era tudo um grande pé no saco. Joguei as coisas pro ar e fui para a ilha de Balboa (pode procurar no Google, ela existe!). Agora fico deitado na rede e ouço rock o dia todo.

1 comentários :

  1. O peso da idade chega pra todos inclusive ora críticos frito esse daí, querer julgar David Gilmour, há...ha...me poupe
    O cara que tocou é ainda toca ora caralho...Gilmour é muito PHODA

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