Stratovarius - Eternal (2015): Adeus assombrações.


Algumas bandas não são ingeridas com muita facilidade. Por mais brilhante que sejam suas composições, a apreciação delas é difícil e requer muitas tentativas. Geralmente são necessárias várias audições para que você comece a extrair ao máximo tudo o que estão propondo.

FÁCIL COMO PUDIM

O Stratovarius definitivamente não cabe na descrição acima. Os finlandeses conhecem alguma fórmula mágica que lhes permitem serem incrivelmente cativantes.
Na primeira audição do álbum eu já estava cantando o refrão de Man in the Mirror, ou assobiando a melodia de Lost Without a Trace.

Eternal soa como um disco muito fácil de ser absorvido, e por mais que não exista um ponto espetacular que vá ficar marcado na história, também não há nenhum ponto muito negativo. Eles conseguem manter uma consistência impressionante.

A análise é bastante prática: Você gosta de power metal? Você gosta de teclados? Você gosta de bumbos duplos? E dos três juntos?
Se você respondeu sim para todas as perguntas acima, pronto. Pode ficar tranquilo que o Stratovarius será tão fácil de ingerir quanto um pudim é. De primeira, agradável, sem rodeios.
O Stratovarius é o pudim do metal!

BOAS PASSAGENS

A abertura já vem fuderosa com My Eternal Dream. O teclado de Jens Johansson puxa a introdução, seguido pela bateria rápida de Rolf Pilve. Instrumentalmente, o Stratovarius está afiadíssimo.

Alguns refrãos ficaram muito bem construídos também. E esse é o principal destaque de músicas como Shine in the Dark, por exemplo, ou até a Giants, que infelizmente só está presente na edição japonesa do álbum.
“Qual a necessidade de fazer trezentas edições diferentes de um álbum, com excelentes músicas estando em algumas e ficando de fora em outras edições? Tá... Eu sei a resposta. Chega de retóricas.”
O Stratovarius também continua mandando muito bem nas baladinhas. Fire in Your Eyes conseguiu ficar no ponto certo, sem exageros melosos e com Timo Kotipelto cantando limpo e sem firulas.

LETRAS FRACAS

O ponto mais fraco são as letras. Eternal não é lá muito inspirado nesse quesito. A primeira faixa (My Eternal Dream) começa com Timo se lembrando da sua juventude (“Eu ainda me lembro de quando era uma criança”). A música seguinte (Shine in the Dark), sem nenhum intervalo para refrescar a memória do ouvinte, começa praticamente igual (“Quando eu era novo e a vida havia acabado de começar”).

Além disso, ambas as músicas falam da eternidade, mais especificamente as palavras “sonho eterno”.
Observe, vou citar uma frase de cada música: “Eu vou seguir, serei forte, tudo o que preciso é meu sonho eterno”, e depois, “Nós somos o que deixamos para trás/ Um sonho eterno/ Você voou por mim”.
Letras foram feitas no gerador de lero-lero?

Também há uma neura com a palavra fogo e seus derivados.
Olhe para Feeding the Fire: “Nós assistimos e esperamos enquanto tudo queima/ E nós estamos apenas alimentando o fogo”.
Agora, para Man in the Mirror: “Você fez fogo e amaldiçoou a chama/ Você secou a fonte dos desejos”.
Mais uma! É a vez de Few Are Those: “Mantenha a chama, deixe queimar/ Por entre a noite deixe brilhar”.
E para finalizar com chave de ouro, Fire in Your Eyes: “De algum modo tudo valerá a pena e a dor dentro de mim morrerá/ Quando eu ver o fogo brilhar nos seus olhos”.

Eu poderia continuar falando mais um monte de repetições e clichês aqui, mas iria me alongar demais. Então deixo um desafio para você, leitor. Duvido você descobrir quantas vezes as palavras “luta”, “cair” e “levantar” aparecem.

SÍNDROME DE KEEPER

Já falei sobre a Síndrome de Keeper aqui no blog?
Esse é um mal que afeta muitas bandas que surgiram pós 1988, quando uma banda chamada Helloween lançou um disco chamado Keeper of the Seven Keys Part II, que curiosamente possui uma música de mesmo nome.

Essa música foi a origem de tudo. Ela possui uma letra que narra uma epopeia, solos rasgando tudo, mudanças rítmicas, vocais super potentes, e mais de dez minutos de duração. O sucesso foi estrondoso e a música virou um hino.

A Síndrome de Keeper consiste de bandas (a maioria de power metal, mas há exceções) que buscam alucinadamente repetir essa saga. E acham que para fazer isso, basta uma letra longa, muitas variações, gritos, e viradas de bateria.

O Stratovarius é uma das vítimas desse mal. Elysium gravado em 2011 mostrou isso. Nemesis, de 2013 não mostrou sintomas da síndrome, o que me levou a crer que eles estavam curados.
Mas agora, com Eternal, a música The Lost Saga mostra que eles tiveram uma bela recaída.

Era uma música que tinha tudo para estar nas três melhores do disco, se tivesse menos de sete minutos. Mas não há conteúdo para os quase doze minutos que ela dura, dando a sensação de ter sido artificialmente inflada, na vã tentativa de virar uma nova Keeper of the Seven Keys.

O MELHOR DA NOVA ERA

Quando eu escrevi sobre o Elysium, lançado em 2011, disse que o maior desafio dos finlandeses seria se livrar das assombrações de Timo Tolkki, principal nome do Stratovarius até deixar a banda em 2008.

Bem, quatro álbuns depois, pode-se dizer seguramente que as assombrações do gordão ex-líder não existem mais.
O conjunto achou sua identidade, está totalmente independente, e apesar dos tropeços já citados no texto, Eternal é um ótimo disco e pode ser considerado o melhor do novo Stratovarius.

Cry for the man in the mirror. See his empty eyes, where nothing lies beyond.

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Stratovarius
Ano: 2015
Álbum: Eternal
Gênero: Power Metal
País: Finlândia
Integrantes: Jens Johansson (teclado), Lauri Porra (baixo), Matias Kupiainen (guitarra), Rolf Pilve (bateria), Timo Kotipelto (vocal).

MÚSICAS:
1 - My Eternal Dream
2 - Shine in the Dark
3 - Rise Above It
4 - Lost Without a Trace
5 - Feeding the Fire
6 - In My Line of Work
7 - Man in the Mirror
8 - Few Are Those
9 - Fire in Your Eyes
10 - The Lost Saga



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Quem usa o Google Plus?

Sobre o Unknown

Depois de anos de estudo e dedicação à engenharia, percebi que era tudo um grande pé no saco. Joguei as coisas pro ar e fui para a ilha de Balboa (pode procurar no Google, ela existe!). Agora fico deitado na rede e ouço rock o dia todo.

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